A história evolutiva dos
Seres Humanos, ainda nos dias de hoje, é vista com certa cautela pela sociedade.
A interpretação equivocada de que nós teríamos evoluído a partir dos macacos é
um conceito perigoso e que distorce a compreensão de como a evolução acontece.
Mas cientistas ao redor do mundo têm
feito diversos estudos cada vez mais elucidativos a respeito da nossa história.
A edição de julho/2010 da revista
National Geographic traz na capa o que eles intitulam de “o rosto da evolução”,
remetendo à descoberta de um fóssil de Ardipithecus ramidus encontrado no Médio Awash, na Etiópia, sendo considerado o mais completo
e revelador fóssil já encontrado, e que carrega uma grande riqueza de
informações sobre a evolução humana.
Figura 1: Localização do Médio Awash, Etiópia- África
Fonte:
http://www.datuopinion.com/awash-medio
Descoberto em 1994 pelo paleoantropólogo norte americano
Tim White, o fóssil, de 4,4 milhões de anos, foi apelidado de “Ardi” que
significa solo, raiz, no dialeto local e possui algumas características muito distintas,
algumas primitivas, e outras avançadas e exclusivas de hominídeos.
Fonte:
http://discovermagazine.com/2011/jan-feb/29
Figura 3: Ossada do Ardipithecus ramidus esquerda e ilustração do
Espécime a direita
Fonte:
http://www.wired.com/2009/10/ardi-2/
COMPARANDO
1- Andar bípede - A
pelve humana, ao longo de milhares de anos, passou por modificações para
adaptar-se ao andar ereto. A pelve de Ardi apresenta sinais de um primata
primitivo em pleno processo de humanização. A porção superior da pelve de Ardi
é curta e larga e exibe outras características pouco vistas, exceto em
hominídeos, mas a porção inferior de sua pelve é como a dos macacos
antropoides, com ligamentos de músculos posteriores das pernas, indispensáveis
em escaladas. Supõe-se então que o A. ramidus
não era um exímio ser caminhante, mas seria possível afirmar que ele era
capaz de, tanto caminhar sobre quatro pernas, quanto andar sobre duas pernas.
Uma das perguntas que os cientistas se fizeram foi se o
bipedalismo dos seres humanos teria realmente se desenvolvido a partir do A. ramidus devido à morfologia peculiar
de seus pés adaptada pra viver em árvores. Por outro lado, o bipedalismo teria
surgido por consequência da necessidade de acasalamento, que se dava no solo.
2- Pés- A
disposição oposta dos dedões do pé de Ardi (figura 4) indica uma ancestralidade
em relação aos primatas, algo que já não é visto em “Lucy”, fóssil de Australopithecus
afarensis, um milhão
de anos mais novo que Ardi. Tal evidência sugere que, devido às pressões
naturais e uma recorrente necessidade de um caminhar no solo, esta
característica dos dedos do pé alinhados aos demais tenha se tornado mais
evidente, visto que isso confere uma força de propulsão e estabilidade ao andar
e ao correr.
Figura
4: Sistema esquelético Ar. ramidus
Fonte:
http://roberto-furnari.blogspot.com.br/2015/05/evolucao-humana-parte-3-primeiros.html
3- Dentição- O cientista Owen Lovejoy, especialista em
anatomia comparada, afirma que caninos pontiagudos e afiados (atrito com os
dentes inferiores) muito presentes em antropoides vivos e já extintos, eram
utilizados como arma contra outros machos. Porém, os caninos encontrados em 21
indivíduos de A. ramidus são menores,
muito semelhantes a caninos de hominídeos. Lovejoy afirma que tal modificação poderia
ter ocorrido quando, ao invés de disputar com outros machos, o A. ramidus passou a se concentrar em
fornecer a(s) sua(s) parceira(s) e prole alimentos calóricos e em troca recebia
favores sexuais. Por esse motivo, seus braços passariam a exercer a função de
carregar os alimentos, exigindo um progressivo abandono do andar quadrupede. A
espessura do esmalte encontrada em sua arcada dentaria encontra-se num nível
intermediário entre os chimpanzés e homininios, o que sugere uma dieta
alimentar a base de frutos e folhas.
Figura 5: Dentições de, (1) Ser humano; (2) A. ramidus e (3) chimpanzés, todos
machos e abaixo, amostras correspondentes do primeiro molar maxilar.
Fonte: Adaptada de http://science.sciencemag.org/content/suppl/2009/10/01/326.5949.69.DC2
4- Crânio- A face
do A. ramidus apresenta um focinho
avantajado (figura 6), dando-lhe uma aparência de um macaco. Detalhes na parte
inferior do crânio, por onde os nervos e veias que penetram no cérebro, indicam
que o cérebro de Ardi estava posicionado de forma similar aos humanos modernos.
Seu rosto e cérebros eram relativamente pequenos, medindo cerca de 350 cm³,
algo próximo ao tamanho do cérebro de fêmeas de chimpanzés modernos.
Figura
6. Vista
lateral do crânio de Ardipithecus ramidus
Fonte: http://ib.usp.br/biologia/evolucaohumana/acervo-de-fotos/monos/category/29-ardipithecus-ramidus.html
Figura
7. Crânio
de Homo sapiens sapiens
fonte: adaptada de http://veja.abril.com.br/ciencia/neandertais-coexistiram-com-os-humanos-na-europa-por-ate-54-mil-anos/
Conclusão
De fato, este fóssil é
de grande importância no que diz respeito a evolução humana, pois ele traz
características muito evidentes que poderiam ser a resposta de como nós seres
humanos teríamos nos modificado a partir de um ancestral com características
tão peculiares. É preciso reconhecer que ainda é cedo para se afirmar com plena
certeza que teríamos como ancestral o Ardipithecus
ramidus, porém, sabemos que, à medida que o tempo passa, novos fósseis são
descobertos, novas tecnologias surgem para auxiliar na identificação desses fósseis,
e pouco a pouco as lacunas vão sendo preenchidas.
Escrito por Silas Cunha
Referencias
Ardi- humans origins: Disponível em: <http://www.age-of-the-sage.org/evolution/ardi_human_origins.html> Acessado em 27 de maio de 2016
Ardipithecus ramidus: Disponível em:<http://ib.usp.br/biologia/evolucaohumana/acervo-de fotos/monos/category/29-ardipithecus-ramidus.html> Acessado em 27 de maio de 2016
Shreeve, J. O Rosto da Evolução. National Geographic, Julho/2010.
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