A
informação visual sempre teve papel fundamental em diferentes aspectos nos
comportamentos dos animais, sendo um fator que levou a diferentes adaptações de
acordo com sua necessidade nas diferentes classes de animais, o que demonstra
seu papel evolutivo no decorrer de gerações. A visão tem diferentes
especificidades de acordo com o papel daquele animal na natureza, sendo, por
exemplo, como predador e presa, onde normalmente, presas têm visões mais
periféricas e predadores visões mais centradas, além das diferentes capacidades
de dilatação da pupila e rotação do globo ocular, o que confere vantagens em
suas respectivas sobrevivências. As espécies também diferenciam-se, na
capacidade visual, em reconhecer os diferentes espectros eletromagnéticos das
faixas de comprimento de onda definidos pela luz emitida (Figura 1). Essas
diferenças na captação de luz são de extrema importância no ecossistema como um
todo, sendo possível identificar essa importância em animais polinizadores, por
exemplo, como em algumas aves, que enxergam cores vibrantes como vermelho e
amarelo, polinizando flores coloridas; abelhas enxergam a luz ultravioleta,
melhor refletida em flores brancas e morcegos enxergam mal, portanto polinizam
flores sem cores muito chamativas. Portanto, vemos que a visão desempenha
função essencial no equilíbrio ecológico da natureza, influenciando em todos os
nichos.
Figura 1: O espectro eletromagnético. Fonte: AIRES, 2015, p. 310.
Algumas
especificidades nas estruturas oculares da visão também podem diferenciar
animais em noturnos ou diurnos, como veremos a seguir no exemplo dos seres
humanos, que são animais diurnos e os gatos, animais noturnos, mais
especificamente, crepusculares, o que significa que são ativos ao amanhecer e
entardecer.
O aparelho da visão é formado por um par de
globos oculares, os olhos. O
olho composto é, basicamente, constituído por um sistema de lentes, com
características bem específicas, como um sistema automático de focalização,
diferenciando eficientemente o foco em objetos próximos e distantes; a íris,
que controla a luminosidade que entra no olho e a eficiência de operação,
possibilitando a capacidade de enxergar em ambientes com muita ou pouca luz (OKUNO; CALDAS; CHOW, 1982).
Os olhos são formados por três principais
camadas: fibrosa (córnea e esclera), vascular (coróide, íris e corpo ciliar) e
nervosa (retina), além dos meios de refração da luz: humor aquoso, humor vítreo
e cristalino. Em detalhes, estes elementos oculares são (Figura 2):
·
Esclera, que é uma camada externa que protege o globo
ocular;
·
Coróide, que é camada que localiza-se internamente à
esclera e contem vasos sanguíneos, sendo responsável pela nutrição das estruturas
oculares;
·
Córnea, responsável por dois terços da focalização da
luz na retina;
·
Humor
Aquoso, que mantém a
pressão do olho em 15mmHa, fornecendo nutrientes à córnea e ao cristalino (que
não são vascularizados)
·
Íris, composto por músculos cirulares e radiais que
ao se contraírem ou distenderem, diminuem ou aumentam o tamanho da abertura – a
pupila – por onde a luz entra, controlando, portando a quantidade de
luminosidade que penetra no olho;
·
Cristalino, que funciona como a lente do olho, responsável
pelo terço restante da focalização da luz na retina, constituído de fibras
transparentes e envolto por membrana clara e elástica, e os ligamentos que o
ligam aos músculos ciliares podem alterar sua forma, aumentando sua capacidade
de desviar os raios luminosos;
·
Humor
vítreo, que é uma
substância clara e gelatinosa que preenche o espaço entre o cristalino e a
retina, mantendo os raios luminosos no curso estabelecido pela lente;
·
Retina, que contém os fotorreceptores e circuitos
neurais envolvidos no processamento inicial da informação visual, onde ocorre,
portanto, a conversão da imagem luminosa em impulsos elétricos nervosos, que
serão enviados ao cérebro e lá processados. Cobre quase toda a superfície
interna do olho e é extremamente sensível à luz.
Figura 2: Secção sagital do olho humano. Fonte: OKUNO, 1982, p. 271.
Na
retina há dois tipos de fotorreceptores, os cones e os bastonetes, sendo os
cones, estruturas bulbiformes, responsáveis pela visão detalhada à luz do dia,
com percepção de cor, e os bastonetes, com forma reta e delgada, responsáveis
pela visão quando a luz está fraca, detectando tons de cinza, e pela visão
periférica. Em humanos, existem cerca de 6,5 milhões de cones e 120 milhões de
bastonetes em cada olho, sendo 10 vezes mais cones que em gatos, em
contrapartida de 6 a 8 vezes menos de bastonetes.
A
estrutura ocular citada é basicamente a mesma entre humanos e gatos, o que se
diferencia entre ambos, principalmente, é a retina. Gatos possuem uma
concentração contrária à quantidade de cones e bastonetes em humanos, possuindo
mais bastonetes que cones, e tendo um campo de visão maior que os humanos
(gatos enxergam 200º e humanos 180º), portanto possuem a capacidade de ver os
limites do próprio campo visual sem a necessidade de girar a cabeça, o que
auxilia na caça. A acuidade visual é notavelmente diferente também, onde a
nitidez e clareza da visão para um humano é de 20/20 e de um gato é entre
20/100 e 20/200, ou seja, gatos precisam estar a 2 metros para ver o que um
humano vê a 100 ou 200 metros, portanto a visão felina a certas distâncias de
um objeto é mais embaçada que a de um humano, isso se dá devido ao músculo
ciliar dos gatos ser pouco desenvolvido, o que não permite a acomodação ideal
do cristalino para a focalização perfeita do objeto, principalmente a longas
distancias.
Humanos
e gatos são tricomatas, o que significa que possuem três tipos de cones para a
percepção das cores azul, vermelho e verde, entretanto, a visão de gatos
relacionada às cores se assemelha a visão de um humano daltônico (embora não
sejam daltônicos), pois eles vêm sombras de azul e verde, e o vermelho e o rosa
se misturam para eles, podendo se parecer com verde e o roxo com azul, portanto
podem distinguir o azul, verde, amarelo e violeta, mas não o vermelho, laranja
e marrom. A elevada percepção de cores percepção de cores pelos humanos é
devido à alta concentração de cones na área da fóvea, que é a concentração
máxima de cones na região central da retina em uma pequena depressão, gatos não
possuem a fóvea, mas também na região central da retina possui mais cones que
no restante dos olhos, mas também elevada quantidade de bastonetes, o que
permite identificar objetos que se movem muito rapidamente (como roedores, suas
principais presas), o que em humanos é o contrário, podemos identificar objetos
que se movem muito lentamente (que para os gatos estariam aparentemente
parados). A saturação das imagens para gatos é mais negativa que para os
humanos, vendo as coisas mais aproximadas a tons de sépia. Gatos são predadores
e possuem uma habilidade específica para identifica a presa na caça e captura
da mesma, que é a melhor visualização e foco de objetos mais próximos que
distantes, logo, sua visão é como de míopes, não conseguindo identificar objetos
distantes, porém são melhores com objetos próximos. Devido a seu alto número de
bastonetes, conseguem enxergar muito bem no escuro, sem riqueza de cores porem
com uma habilidade maior que os humanos, enxergando com 1/6 da quantidade de
luz mínima que um humano necessita para enxergar, sendo de 6 a 8 vezes melhor.
Os gatos possuem uma estrutura – camada de células – atrás da retina chamada tapetum lucidum (tapete lúcido), que
melhora ainda mais a visão noturna, além dos bastonetes, as células do tapetum lucidum funcionam como um
espelho, que reflete a luz que passa pelos bastonetes e cones de volta para os
mesmos, dando aos fotorreceptores outra oportunidade para captar quantidades
ínfimas de luz, e é graças a esse tapetum,
que por ser como um espelho, o olho dos gatos brilha no escuro, porém, essa
camada de células atua negativamente na nitidez da visão, pois uma vez que
auxilia aumentando a capacidade de visão noturna, reduz a acuidade visual em
condições de intensa luminosidade por aumentar ainda mais a quantidade de luz
que pode ser captada pela retina, e o que compensa isso são suas pupilas de
forma elíptica que dilatam-se muito na escuridão e fecham-se quase
completamente quando a luz é muito forte. Gatos também possuem córneas maiores,
proporcionalmente falando, que de humanos, o que auxilia na luz refletida pelo tapetum.
Além dessas características que são comparadas
de forma um pouco diferenciada em cada um, gatos (dentre outros animais)
possuem uma capacidade na visão que humanos não possuem, que é a captação de
raios ultravioletas, forma de luz invisível aos humanos devido a nossa
estrutura ocular que impede que estes cheguem à retina, possivelmente o
cristalino filtra essa luz. E é esta característica que faz com que sua visão
seja menos nítida que a nossa.
Abaixo, imagens comparando a visão humana e
felina nos diferentes aspectos explicados a cima, todas criadas pelo Nickolay Lamm do Animal Eye Institute,
que consultou três especialistas (Kerry L. Ketring, Dr. DJ Haeussier e o grupo
oftalmológico da Penn Vet) para a realização do projeto que resultou nas
imagens.
Figura 3: Campo de Visão
(180º X 200º). Fonte: Nickolay Lamm.
Figura 4: Acuidade visual:
Humana X Felina. Fonte: Nickolay Lamm.
Figura 5: Cores. Fonte: Nickolay Lamm.
Figura 6: Saturação. Fonte: Nickolay Lamm
Figura 7: Distância. Fonte: Nickolay Lamm.
Figura 8: Visão noturna de
Humanos e Gatos. Fonte: Nickolay Lamm.
Escrito
por Larissa Fernandes
REFERÊNCIAS
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vêm o mundo. 2013.
Disponível em:
<http://www.ciencia-online.net/2013/10/visao-felina-como-os-gatos-vem-o-mundo.html>.
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FREITAS, Elaine Bernardino et al. ESTUDO
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LITERATURA. Revista
Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Garça/pr, v. 11, n. 17, jul.
2011. Semestral. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/site/>.
Acesso em: 23 jun. 2017.
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Disponível em: <http://gatinhobranco.com/?p=1525>. Acesso em: 21 jun.
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Disponível em: <http://www.labatutveterinaria.com.br/index.php/artigos/72-como-caes-e-gatos-enxergam-outubro>.
Acesso em: 22 jun. 2017.
LAMM, Nickolay. Olhos de caçador: como os
gatos vêem? 2014.
Disponível em: <http://gatinhobranco.com/?p=929>. Acesso em: 21 jun.
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MELLO, Margarida de Aires et al. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro:
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OÁSIS, Equipe. Visão de gato: ver o mundo com
os olhos de um felino. 2013. Disponível em:
<https://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/121256/Visão-de-gato-Ver-o-mundo-com-os-olhos-de-um-felino.htm>.
Acesso em: 21 jun. 2017.
OKUNO, Emico; CALDAS, Iberê L.; CHOW, Cecil. Física para ciências
biológicas e biomédicas. São
Paulo: Harbra Ltda., 1982. 489 p.
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