quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Adaptações evolutivas da comunicação acústica dos elefantes


O som é uma onda mecânica longitudinal e omnidirecional (que se propaga em todas as direções) que pode ser percebida tanto por ouvintes intencionais quanto não intencionais, à vista ou não. Como a emissão do som é proposital e de curto prazo, ela é utilizada para informar sobre situações momentâneas ao invés de estados constantes. As ondas sonoras são reduzidas pelo meio ambiente por meio da reflexão, refração e absorção, com maior intensidade nos casos de sons de alta frequência do que nos sons de baixa frequência.

O que confere aos elefantes a capacidade de produzir uma grande variedade de sons?

Os elefantes são animais especialistas na produção e emissão de sons de baixa frequência assim como na comunicação a longas distâncias. A gama de sons produzidos pelos elefantes é vasta, que vão desde bramidos de baixa frequência a sons de alta frequência, como trombeteios, roncos, latidos, rugidos e gritos, dentre os quais o mais frequente são os bramidos. O chamado de um elefante pode variar mais de 4 oitavas, começando com um bramido de 27 Hz que evolui até um rugido de 470Hz. Ao incluir a harmonia, o chamado dos elefantes pode variar mais que 10 oitavas, originado de um baixo de 10hz que alcança um alto de mais de 10.000Hz.
Os elefantes são capazes de produzir sons muito sutis assim como também são capazes de produzir sons extremamente poderosos. Alguns chamados produzidos por elefantes podem chegar a 112dB gravado a um metro de distância de onde foi originado. Os decibéis são medidos em um a escala logarítmica e, vale lembrar que para níveis superiores a 120dB, a sensação auditiva se torna em uma sensação dolorosa. Para exemplificar o quão alto o som de alguns elefantes pode chegar, a tabela abaixo publicada no The Science of Sound, por T. D. Rossing fornece exemplos de sons comuns durante nosso cotidiano:

Tabela 1: Sons comuns do cotidiano medidos em decibéis
Fonte: <https://www.elephantvoices.org/elephant-communication/acoustic-communication.html>


Como os elefantes produzem uma grande variedade de sons?
O som é produzido à medida em que o ar é expelido dos pulmões e passa pelas cordas vocais ou pela laringe, uma estrutura que nos elefantes medem 7,5 cm. O ar em movimento acarreta a vibração das cordas vocais em uma determinada frequência, que depende do tipo de som que está sendo produzido. A variedade de frequências produzidas é resultante do encompridar ou encurtar das cordas vocais. A coluna de ar vibra no trato vocal estendido ou na câmara ressoante dependendo da maneira em que o elefante posiciona os componentes da câmara, que são a tromba, a boca, a bolsa faríngea e a laringe, o que permite que ele possa modificar e amplificar   os diferentes componentes do som.
Alguns chamados dos elefantes estão associados a certas posições da cabeça e das orelhas. Acredita-se que, ao colocarem sua cabeça em determinada posição e ao movimentarem suas orelhas em um determinado ritmo e ângulo, os elefantes afetam a musculatura em torno da laringe a fim de modificar um chamado e atingir um som desejado.


Figura 1: Elefante Africano (Loxodonta africana)
Fonte: <https://www.elephantvoices.org/elephant-communication/acoustic-communication.html>

Os elefantes produzem diversos sons de baixa frequência por vários motivos. O primeiro motivo é devido ao tamanho de seu corpo, pois, assim como nos instrumentos musicais, quanto mais longa e solta a corda, e quanto maior a câmara ressonante, mais baixa será a frequência produzida. Outra razão para isso e que os elefantes possuem diversas adaptações que os permitem tornar suas câmaras ressonantes ainda maiores e suas cordas vocais contraídas, produzindo sons mais baixos que o esperado.
A primeira adaptação é a tromba, que no caso dos machos adultos podem adicionar até 2m de comprimento à câmara ressonante. Em segundo lugar, as estruturas que compõem o aparelho hioideo e a musculatura que dá suporte à língua e à laringe nos elefantes se distingue dos outros mamíferos. Nos elefantes o aparelho hioideo contém cinco ossos ao invés de nove, que são ligados ao crânio por músculos, tendões e ligamentos, e não por ossos, como acontece na maioria dos mamíferos. Isso confere a eles uma maior flexibilidade e movimentação da laringe, o que facilita a produção de sons de baixa frequência. Além disso, na maioria dos mamíferos o aparelho hioideo dá suporte à língua e à laringe. A estrutura menos rígida nos elementos também contém uma bolsa faríngea, estrutura única dos elefantes, localizada na parte basal da língua que, além de providenciar uma fonte de água emergencial, também parece auxiliar na formação de sons de baixa frequência.

Localização do Som

Elefantes são muito bons para localizar sons, eles estendem suas orelhas perpendicularmente a sua cabeça para aguçar sua habilidade de localizar sons. Acredita-se que quanto maior a distância interauricular (distância entre as orelhas) do animal, maior sua sensibilidade para localizar sons, pois a diferença entre o tempo e a intensidade em que atingem cada ouvido pode ser usada como pista para localização do som.

Escrito por André Gomes Fernandes

Referências Bibliográficas

Acoustic communication. Elephant Voices, c2019. Disponível em: < https://www.elephantvoices.org/elephant-communication/acoustic-communication.html>, Acesso em: 01 de jun. de 2019.

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