sexta-feira, 24 de maio de 2019

A GLÂNDULA PINEAL


          A glândula pineal, também chamada de epífise ou corpo pineal, é um pequeno fragmento de tecido, localizado entre os dois hemisférios cerebrais. Trata-se de uma estrutura que compõem o sistema endócrino, que possui o formato de uma pinha (daí o seu nome), estando localizada no sistema nervoso central, no epitálamo, ou seja, na parte superior e posterior do diencéfalo, alojada por sobre o mesencéfalo, logo abaixo do esplênio do corpo caloso, posteriormente aos dois tálamos, com sua base inserida por meio de uma haste à comissura das habênulas, tendo dimensões em humanos de cerca de 7,4mm (comprimento) x 6,9mm (largura) x 2,5mm (espessura).


Figura 1 – Localização da glândula pineal no encéfalo humano.


 Figura 2 – Via bioquímica para formação da melatonina

 


             Esta glândula endócrina se caracteriza por possuir uma função rítmica e varia com o ciclo diário de claridade e escuridão. Ela produz o hormônio melatonina, que é armazenado em quantidades reduzidas na própria glândula, e é liberada no sangue em pequenas quantidades durante a fase clara do dia, e em grandes quantidades durante a fase escura do dia.
            A pineal origina-se embriologicamente de um divertículo evaginado do teto do III ventrículo, saindo da linha média entre a comissura habenular, anteriormente e posteriormente ao órgão subcomissural e à comissura posterior, estando correlacionada aos chamados órgãos circunventriculares, que constituem pequenos núcleos de células neurais. Sua diferenciação ocorre na fase embrionária, em decorrência de um espaçamento da parede da vesícula diencefálica, motivo pelo qual ao final deste processo torna-se uma formação sólida, constituída por um agregado de células foliculares. Tal diferenciação celular, é capaz de produzir células especializadas, os chamados pinealócitos, que possuem função neurossecretora.
            Nota-se, na escala evolutiva, que a presença da glândula pineal ou mesmo tecidos compatíveis com pinealócitos, ocorre desde os peixes. Em vertebrados como salamandras, serpentes, aves e tartarugas, ele está presente junto a um órgão parapineal, constituído por células fotorreceptoras que possui a capacidade intrínseca de regular a biossíntese de melatonina, desta forma gerando ritmos circadianos. Já em mamíferos, a glândula pineal é encontrada sem a presença do órgão parapineal, o que a impede de ser sensível a luz direta do sol, desta forma torna-se dependente dos fotorreceptores da retina, bem como da oscilação circadiana fornecida pelo núcleo supraquiasmático, para a regulação de síntese de melatonina. 


            Considerando vertebrados basais, compreende-se a pineal como um sistema constituído de duas partes, a pineal propriamente dita, que é uma estrutura vesicular, e o órgão parapineal localizado em um nível extracraniano e superficial, ímpar e mediano, possuindo função sensorial e com características teciduais semelhantes a de fotorreceptores das células da retina. Para integrar um circuito de informação do ritmo claro-escuro, o órgão parapineal emite fibras que cruzam os forames presentes no crânio e vão até a pineal.
            Em alguns vertebrados foi comprovado que a glândula exerce funções importantes no controle das atividades sexuais e da reprodução. Isso se deve ao fato de que, em tais animais nos quais a glândula pineal foi removida ou nos que os circuitos nervosos que se dirigiam a essa glândula foram interrompidos, os períodos anuais normais de fertilidade sazonal desapareceram. Para esses animais, essa fertilidade sazonal é importante para que suas proles nasçam em períodos como primavera e verão, quando a sobrevivência é mais p­­­­­­­­­rovável.
            Em experimentos foi percebido que, independente da fase do dia, a produção de melatonina atinge seu pico à noite. A ritmicidade diária produzida aqui, é característica também das plantas e de todos os organismos vivos e persiste mesmo na ausência de ciclos de luz, escuridão e pistas externas. Certos animais que são mantidos sob luz e temperaturas constantes ainda mantem uma periodicidade de aproximadamente 24 horas, conhecida como ritmo circadiano. Tal fato indica que deva existir um “relógio” interno que mantem os ciclos. E em mamíferos esse relógio são os núcleos supraquiásmaticos do hipotálamo, já que quando está área do tecido nervoso é retirada, o animal não segue mais o ciclo. Entretanto se o animal receber os núcleos de outro animal por transplante, seu ritmo é restaurado, porém com a periodicidade do doador, evidenciando que o ritmo é de fato controlado por este tecido.
            Em anfíbios, a melatonina produzida na pineal possui a propriedade de clarear a pele dos girinos por uma ação sobre os melanóforos. Entretanto, não parece desempenhar qualquer papel fisiológico na regulação da cor de pele. Nos mamíferos, o sinal de luminosidade é percebido pelos olhos, que são passados para os
núcleos supraquiásmaticos e de lá para a pineal. Nas aves os olhos não participam, a pineal está localizada abaixo do osso do crânio, e a luz penetra esse tecido ósseo fino, afetando diretamente a glândula. Já melatonina é encontrada no olho, não se originando na pineal, mas sim produzidas pela retina.


Figura 3 – Seta indicando a localização aproximada da glândula pineal em aves.
 


Escrito por Raphael Costa

REFERÊNCIAS

FILGUEIRAS, Marcelo Quesado. Glândula Pienal: revisão da anatomia e correlações entre os marca-passos e fotoperíodos na sincronização dos ritmos cardíacos. HU Revista, v. 32, n. 2, p. 47-50, 2006.
GANONG, W. F.; Fisiologia Médica; 22ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2006. 777p.
GUYTON, A. C; HALL J. E; Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças; 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 652p.
SCHMIDT-NIELSEN, K.; Fisiologia Animal – Adaptação e meio ambiente; 5ª ed. Livraria Santos Editora Com. Imp. Ltda., 2002. 611p.


FONTE DAS IMAGENS

Figura 1 - https://www.psicoactiva.com/blog/la-glandula-pineal-importante-funcion/
Figura 2 - http://www2.unifap.br/oiapoque/files/2014/07/Artigo-03.pdf
      Figura 3 - https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/10410    /1/Osteologia%20das%20aves,%20Rom%C3%A3o%202011.pdf