segunda-feira, 2 de julho de 2018

SINTESE, ARMAZENAMENTO E SECREÇÃO DE HORMÔNIOS PELA ADENO-HIPÓFISE HUMANA E DE PEIXES


A hipófise humana é uma glândula alojada na fossa hipofisária do osso esfenoide, que está intimamente conectada ao sistema nervoso central (SNC), mais especificamente ao hipotálamo pelo pedúnculo hipofisário estabelecendo relações fisiológicas e anatômicas importantes na secreção hormonal (AIRES, 2015).
Dividida basicamente em adeno-hipófise e neuro-hipófise (imagem 1) a glândula tem sua origem embriologia distinta na formação de suas duas porções. A adeno-hipófise provém da bolsa de Rathke, ou seja, uma evaginação do teto da cavidade oral, com células características de tecido epitelial, já a neuro-hipófise constituída de células glias origina-se da projeção do assoalho do hipotálamo (AIRES, 2015).
Imagem 1) Representação esquemática da origem embrionária do eixo hipotálamo-hipofisário.


Fonte: Aires, (2015).


Adeno-hipófise
Constituída de diversas células, a adeno-hipófise apresenta células que sintetizam e secretam hormônios proteicos: as  somatotróficas liberadoras  de hormônio do crescimento (GH), as lactotróficas  liberadoras de prolactina (Prl); células que sintetizam e secretam hormônios glicoproteicos: as células tireotróficas liberadoras de hormônio tireotrófico (TSH), as células gonadotróficas liberadoras de gonadotrofinas (os hormônios luteinizante (LH) e o hormônio foliculestimulante (FSH)); e as células que sintetizam e secretam hormônios peptídicos: as células corticotróficas liberadoras de hormônio adrenocorticoticotrófico (ACTH). As somatomamotróficas, outro tipo celular tem a capacidade de secretar tanto GH quanto Prl como visto são hormônios proteicos. (AIRES, 2015).
De acordo com Aires (2015) as funções e os efeitos biológicos dos respectivos hormônios são:
·         O hormônio tireotrófico (TSH) induz a alteração nas células tireoidianas tanto morfologicamente quanto nos aspectos funcionais, ocorrendo hipertrofia e hiperplasias dessas células, estimulo da síntese de tireoglobulina e estimulo de proteínas responsáveis pela síntese e secreção dos hormônios tireoidianos, os quais participam do controle metabólico do organismo.
·          As gonadotrofinas (LH e FSH) no corpo da mulher irão agir fundamentalmente nas gônadas, nas quais, estimulam o crescimento e diferenciação tornando o órgão funcional para a reprodução através da maturação dos folículos ovários; a ovulação também é estimulada pelo LH e FSH, além da produção de estrogênio e progesterona, regulação dos gametas femininos, estimulação da ploriferação do endométrio e inibição da contração uterina. Nas gônadas dos homens as gonadotrofinas irão estimular a espermatogênese, síntese final de testosterona e síntese de ABP uma proteína ligante que permite grande concentrações de testosterona nos túbulos seminíferos para a maturação dos espermatozoides.
·         O hormônio do crescimento (GH) age no crescimento o esqueleto através do estimulo da síntese de colágeno, atuando assim na proliferação do tecido cartilaginoso. Sabe-se que o GH tem ação na síntese de proteínas pelo estimulo no transporte de aminoácidos e também tem ação sobre o metabolismo de carboidratos e lipídios pelo aumento da lipólise e diminuição da utilização da glicose pela supressão dos efeitos da insulina.
·         O hormônio da prolactina (Prl) tem grande participação na gravidez juntamente com a progesterona, estrogênio, lactogênio placentário, insulina e cortisol ao preparar as glândulas mamarias para a secreção de leite no período de lactação. Há indícios que a Prl possa inibir a expressão de receptores de LH e FSH nas gônadas, levando quando em excesso à diminuição a ligação dessas gonadotrofinas, no qual, está relacionado a graus de esterilidade feminina.
·         O hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) age na interação de células alvos com receptores específicos da membrana plasmática, no qual, vão estimular a síntese e secreção de glicocorticoides, mineralocorticoides e esteroides androgênicos, existindo evidencias de auxílio no  estimulo da síntese de mRNA  e de proteínas adrenais;  no tecido adiposo promove  a lipólise, no tecido muscular auxilia na ligação de aminoácidos e glicose, promove, nas somatotróficas, a secreção de GH  e nas pancreáticas estimula  a secreção de insulina.
Como visto em humanos a hipófise de peixes (imagem 2) também é dividida em adeno-hipófise e neuro-hipófise (LEVANVI-SILVAN et al., 2010). A adeno-hipófise de peixes é subdividida em pars intermedia, que encontra-se as células produtoras de melanotropina (MSH) e somatolactinas (SL); enquanto na outra porção, da neuro-hipófise, terá a rostral pars distalis, na qual, localiza-se as células produtoras de  GtHs, tireotropina (TSH), hormônio de crescimento (GH), a proximal pars distalis, onde encontra-se as células produtoras de prolactina (Prl) e de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) de acordo com Kawauchi e Sower (2006).

Imagem 2) Representação esquemática da hipófise de peixes.
 Fonte:http://slideplayer.com.br/slide/3273401/

Os hormônios produzidos na hipófise de peixes possuem algumas funções semelhantes àquelas observadas em humanos, e outras específicas deste grupo de animais. Nos peixes:
O hormônio melanotropina (MSH) induz os melanócitos a dispersar grânulos de melanina na pele, promovendo alterações na coloração (AIRES, 2015).
O hormônio da somatolactina (SL) inibe a ação do hormônio GH (BALDISSEROTTO, 2013). A SL não tem sua função bem definida, mas sabe-se que está envolvida na função imune, efeitos imunorregulatórios e balanço energético (AGULLEIRO et al.; DORSHKIND e HORSEMAN, 2000).
Os hormônios gonadotropinas (GtHs) estimulam a síntese de andrógenos, progetágenos e estrógenos nas células foliculares de fêmeas e as células de Leydig em machos, nas quais, promove a vitelogênese, maturação, ovulação espermatogênese, espermiação e motilidade de espermatozoides (LEVANVI-SILVAN et al., 2010; KAWAUCHI e SOWER, 2006; SCHULZ et al., 2010).
O hormônio tireotropina (TSH) durante a fase larval regula a síntese e secreção dos hormônios tireoidianos (BROWN e BERN, 1989; GARCÍA-AYALA et al., 2003).
O hormônio de crescimento (GH) estimula o crescimento de proteínas que se ligam aos fatores de crescimento semelhantes a insulina (IGFs) no fígado, coração, rins e nas gônadas promovendo a mitogênese, diferenciação celular, inibição da apoptose, crescimento da cartilagem, desenvolvimento do trato gastrointestinal, manutenção e regeneração de neurônios (SELLIER, 2000; DAL-PAL et al., 2014).
 O hormônio prolactina (PRL) “participa na regulação do equilíbrio hidroeletrolítico” (AIRES, p. 1020. 2015), auxilia na homeostase do cálcio, no processo de reprodução, comportamento, crescimento e imunorregulação (KANEKO e HIRANO, 1993; GALAS E EPLER, 2002; POWER, 1992; DORSHKIND E HORSEMAN, 2009).
O hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) controla a síntese do cortisol, hormônio importante para o controle do estresse, metabolismo e osmorregulação (WENDELAAR-BONGA, 1997).

Assim é visto que a glândula hipofisária executa importantes funções na síntese, armazenamento e liberação de vários hormônios peptídicos relacionados ao controle hormonal tais como a reprodução, o desenvolvimento, o crescimento, a osmorregulação e no metabolismo.

Escrito por Eriks Oliveira


  Referências
AIRES, M. M. Fisiologia. 4.ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2015.  682- 688 p.
AGULLEIRO, B.; GARCÍA-HERNANDEZ, M.P.; GARCÍA-AYALA, A. Teleost adenohypophysis: morphofuncional and developmental aspects. In: REINECKE, M; ZACCONE, G.; KAPOOR, B.G. (Ed.). Fish Endocrinology. Enfield, New Hampshire: Science Publishers, v. 1, p. 289-323, 2006.
BALDISSEROTTO, B. Endocrinologia, In: - Fisiologia de Peixes Aplicada à Piscicultura. 3. Ed. Santa Maria / RS, 2013. Cap. 7, p. 157-179.
BROWN, C.L.; SULLIVAN, C.V.; BERN, H.A.; DICKHOFF, W.W. Occurrence of thyroid hormones in early developmental stages of teleost fish. American Fisheries Society Symposium, v. 2, p. 144-150, 1987
DAL-PAL, M.; ALMEIDA, F. L. A; CARANI, F. R. Morfologia, Desenvolvimento e Crescimento Muscular. Biologia e Fisiologia de Peixes Neotropicais de Água Doce. 1. ed. Jabuticabal/SP. Cap. 8. P. 607-632, 2014.
DORSHKIND, K.; HORSEMAN, N. D. The roles of prolactin, growth hormone, insulinlike growth factor-I, and thyroid hormones in lymphocyte development and function: insights from genetic models of hormone and hormone receptor deficiency. Endocrine Reviews, v. 21, p. 292-312, 2000
GALAS, J., EPLER, P. Does PRL affect steroid secretion by isolated rainbow trout ovarian cells? Comparative Biochemistry and Physiology, v.132B, p.287–297, 2002
GARCÍA-AYALA, A.; VILLAPLANA, M.; GARCÍA-HERNÁNDEZ, M.P.; CHAVES POZO, E.; AGULLEIRO, B. FSH-, LH-, and TSH-expressing cells during development of Ganeco, Luciana N. (2007) – Tese Doutorado em Aquicultura 31 Sparus aurata L. (Teleostei). An immunocytochemical study. General and Comparative Endocrinology, v. 134, p. 72–79, 2003.
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SCHULZ, R.W.; FRANÇA, L.R.; LAREYRE J.; LEGAC, F.; CHIARINI-GARCIA., H.; NÓBREGA, R.H.; MIURA, T. Spermatogenesis in fish. Gen Comp Endocrinol, v.165, p.390-411, 2010.
WAUCHI, K. A.; H. SOWER, S.A. The dawn and evolution of hormones in the adenohypophysis. Gen Comp Endocrinol, v.148, p.3-14, 2006
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